Martinho Dias was born in 1968 in Sto. Tirso. He currently lives in Trofa, where he has a studio.
He has a master's degree in Fine Arts – Painting, from the Faculty of Fine Arts of Porto.
It is not possible to remain indifferent to Martinho Dias' painting. He captures your gaze, if nothing else because of the unusual break of formal environments he offers us. The dissonant element [...] introduces a caricatural and political dimension that arouses an interpretive gaze. And those who see must reflect, even if art, as Freud intended, may be incomprehensible and enigmatic. Martinho Dias asks us for the effort of reason to give in to the delight of the eye.
And it is not difficult. Through the tension that the faces convey, through the vigorous and markedly gestural smudge, through the light and the contrast of colours and through the irony, certainly, sometimes caricatural and satirical.
To remain indifferent to Martinho Dias' painting is to remain in disquiet and ambiguity. And we men, using the scalpel of explanatory reason, tend towards what is comfortable and right. The question is whether we get there.
António Tavares (Writer)
PINTURAS ESCRITAS
2003-2015
A trilogia; música – texto – pintura, à qual se sobrepõe; autor – obra – intérprete, são os fundamentos do projeto ao qual chamei Pinturas Escritas. São convidados a participar diferentes compositores a quem lhes é pedida a elaboração de uma composição plástica em forma de texto descritivo, no lugar da notação musical. O texto, escrito por cada compositor, contém deste modo a obra (pintura escrita) que será posteriormente interpretada e executada por mim.
São criadas obras plásticas como resultado de diferentes linguagens, ou metalinguagens, a partir da interpretação de interpretações.
A analogia, música/pintura, texto/pintura, autor/intérprete-autor, assim como a escrita da pintura, são questões sugeridas por este projeto.
As “Pinturas Escritas” são o resultado de um jogo de linguagens.
Um artista plástico (eu) convida um compositor a criar uma pintura. O compositor concebe mentalmente, e de uma forma livre, uma composição visual, descrevendo-a por palavras em forma de texto que chegará às mãos do pintor.Este, interpretando o texto descritivo, ou seja, a pintura escrita, dará forma à obra imaginada pelo compositor. Temos assim: um compositor no lugar de um pintor, um texto no lugar de uma partitura e um pintor no lugar de um instrumentista/intérprete.
Os textos elaborados por cada compositor contêm indicações e sugestões, mais ou menos precisas, como; aspetos conceptuais, características das formas visuais e a sua localização no suporte, cores, expressividade e referência a outros elementos que o compositor quer ver representados na obra.
Se alguns textos são “precisos” na escrita da pintura, outros funcionam mais ao nível da sugestão. No entanto, todos eles transportam música que se refletirá consequentemente na pintura, ou seja, todas as Pinturas Escritas espelham o universo musical de cada compositor-autor; as suas vivências, conceitos, materiais sonoros… no fundo, a sua música.
A música, depois de ser criada, e antes de ser executada, é escrita (com exceção da música improvisada). A pintura, pelo contrário, é executada no mesmo momento em que é concebida – não precisa de uma partitura nem de um intérprete – o intérprete é o próprio autor. Quis trazer o processo musical para a pintura e assumir o papel de intérprete-executante de uma obra que não criei.
Convidei então diversos compositores a conceber e escrever uma pintura. O resultado é um conjunto indeterminado de Pinturas Escritas.