Martinho Dias was born in 1968 in Sto. Tirso. He currently lives in Trofa, where he has a studio.
He has a master's degree in Fine Arts – Painting, from the Faculty of Fine Arts of Porto.
It is not possible to remain indifferent to Martinho Dias' painting. He captures your gaze, if nothing else because of the unusual break of formal environments he offers us. The dissonant element [...] introduces a caricatural and political dimension that arouses an interpretive gaze. And those who see must reflect, even if art, as Freud intended, may be incomprehensible and enigmatic. Martinho Dias asks us for the effort of reason to give in to the delight of the eye.
And it is not difficult. Through the tension that the faces convey, through the vigorous and markedly gestural smudge, through the light and the contrast of colours and through the irony, certainly, sometimes caricatural and satirical.
To remain indifferent to Martinho Dias' painting is to remain in disquiet and ambiguity. And we men, using the scalpel of explanatory reason, tend towards what is comfortable and right. The question is whether we get there.
António Tavares (Writer)
PANGEA, Video HD, 50:28 min. 16:9
2015
Pangea, cujo nome nos remete para o suposto continente primordial, deriva da temática recorrente da minha pintura e de projetos colaborativos anteriores. Reflete realidades distintas que, na sua origem, farão parte de uma mesma realidade – a nossa.
No essencial, a obra forma-se a partir de jornais, postais ilustrados e hinos nacionais, preservando-se as línguas originais, tanto faladas como escritas, com a consequente dificuldade de compreensão linguística total. Tratando-se de um vídeo, quase todo o trabalho é realizado com imagens fixas.
Pangea, inclui 26 países dos cinco continentes; países desenvolvidos, subdesenvolvidos e emergentes. A parte sonora do vídeo é formada por hinos nacionais. Para tal, convidei cantoras oriundas desses mesmos países para interpretarem, a capella e na respetiva língua, os seus hinos. Escolhi unicamente vozes femininas prevendo que, em alguns casos, as mulheres teriam mais dificuldades em colaborar no projeto, o que veio a verificar-se, sobretudo por razões políticas. Nesta colaboração, a carga simbólica que o hino possui, enquanto símbolo máximo de uma nação, manteve-se, mas a canção adquiriu uma nova dinâmica pela riqueza das interpretações.
O projeto faz coabitar num mesmo espaço (ecrã) imagens ideais e imagens mais aproximadas ao real. Ou seja, a imagem da face ideal que cada país quer mostrar de si próprio está projetada nos postais ilustrados /imagens turísticas, enquanto imagens idílicas, ideais e pré-selecionadas. Por sua vez, os jornais, embora sujeitos a variadíssimos filtros e manipulações, tendem a revelar o que os postais ilustrados ocultam. Por princípio, eles são uma espécie de “diário” de uma nação que é desvendado diariamente através da imagem e da escrita.
Pangea pretende fazer um cruzamento destes dois “auto-retratos”; um mais real e o outro mais ideal. Toda a obra é realizada com material pré-existente, com base numa massa caótica de símbolos, imagens, nomes e referências saídos do caldeirão cultural da globalização.
Martinho Dias
April, 2015